Os sólidos
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A
alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.
- Bem, se o meu pior pesadelo não se importar, prefiro
continuar seguindo meu caminho, daqui por diante. Sozinho, velho. Sozinho. Você
já se ocupou demais de minha vida enquanto pode.
- Fique a
vontade, seu ingrato. Mas saiba que você ainda não viu nada aqui. Não são
apenas essas coisas remelentas que vai encontrar pelo caminho. Tem muitas feras
por aqui e antes que eu me esqueça, não há a menor possibilidade de atingir a
cidade dos sólidos.
- Porque
você os chama de sólidos?
- Veja você
mesmo...
Neste
instante, a poucos metros de onde estavam, um ser extremamente iluminado,
caminhava a passos fortes em direção a uma das criaturas que ali rastejava.
Perto
dele tudo parecia irreal e ganhava ares fantasmagóricos, como se tudo ali
pudesse ser transpassado pela criatura. Olhou para Verbene e para si mesmo e
percebeu que via através de seus corpos, eram fantasmas, verdadeiramente, na
presença do solido, mesmo este estando distante deles.
Quando
o solido avistou o seu alvo, Simic pode ouvi-lo em alto e bom tom, com a voz
que parecia o soar de muitos trovões, mas imensamente calma e prazerosa, como
ele não saberia explicar mas sabia que jamais ouvira aquele tom de voz.
- Desmond,
agora já basta, venha comigo.
- Ora,
afaste-se de mim (disse o rastejante, claramente incomodado com a criatura).
- Porque
insiste em continuar rastejando nesta situação degradante, Desmond? Você esteve
tão perto, porque não vem comigo?
- Fiz tudo
certo na minha vida. Fui um bom pai, bom marido, bom patrão. E você? Não é
porque se veste desta maneira toda iluminada que vou esquecer o que fez com
minha família.
- Desmond,
acabou. As coisas velhas já se foram e tudo se fez novo. Já estive na sua
situação e, garanto que quando consegui me libertar e seguir adiante, tudo se
transformou.
- Não!!! Vá
embora. Você desgraçou minha família. Eu nunca fiz mal a ninguém, estamos em
lugares trocados, exijo retratação.
- Desmond,
aqui não adianta exigir nada e você mente quando diz que não fez mal a ninguém,
sabe disso. Sua esposa sabe quem é você e até ela já o perdoou.
-
Desgraçado, quem pensa que é pra falar de Ingrid? Você desgraçou minha casa,
meu leito, minha família!!! Suma daqui.
- Você me deixa sem
opções Desmond, não há mais nada que possa fazer a seu respeito. Podem vir –
disse o sólido e no mesmo instante, surgidos do nada, uma legião de cavaleiros
em imensos corcéis brancos entraram em cena. Atravessavam a vegetação como se
ela não existisse e Simic teve certeza de que se estivesse no caminho seria
transpassado pelos animais.
Eram
cavalos belíssimos, parecidos da mesma matéria solida dos seres sólidos. Tinham
crinas de fogo e olhos penetrantes como se enxergassem dentro e além do que
avistassem. Seus cavaleiros vestiam um traje vermelho sangue e era como se o
tecido literalmente fosse o liquido.
Falavam uma linguagem estranha entre si, tanto os cavaleiros como os
animais.
Desceram rapidamente de suas celas e apenas a um movimento do solido,
capturaram o infeliz rastejante e num átimo de velocidade estonteante, subiram
em seus animais e desapareceram.
O
solido ficou ali, de cabeça baixa, profundamente triste. Como se aquela missão
fosse a razão de toda a sua existência e ele houvesse falhado. Por um bom tempo
ficou naquela posição, então, ajoelhou-se e chorou copiosamente. Depois de
muito tempo, levantou-se e notou a presença de Simic e Verbene. O olhar da
criatura parecia uma lamina que atravessava os olhos de Simic, mas logo se
voltou para Verbene.
- Cuidado
Verbene, eu o aconselho a pensar muito bem nas escolhas que terá de fazer. –
nisso a criatura desapareceu como se fosse um vento que nunca estivera
verdadeiramente ali.
“O vencedor será igualmente vestido de branco.
Jamais apagarei o seu nome do livro da vida, mas o reconhecerei diante do meu
Pai e dos seus anjos.”
Apocalipse 3:5
Apocalipse 3:5