sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Capítulo V - Os sólidos

Os sólidos
Simic
A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.




              - Bem, se o meu pior pesadelo não se importar, prefiro continuar seguindo meu caminho, daqui por diante. Sozinho, velho. Sozinho. Você já se ocupou demais de minha vida enquanto pode.
                        - Fique a vontade, seu ingrato. Mas saiba que você ainda não viu nada aqui. Não são apenas essas coisas remelentas que vai encontrar pelo caminho. Tem muitas feras por aqui e antes que eu me esqueça, não há a menor possibilidade de atingir a cidade dos sólidos.
                        - Porque você os chama de sólidos?
                        - Veja você mesmo...
                            Neste instante, a poucos metros de onde estavam, um ser extremamente iluminado, caminhava a passos fortes em direção a uma das criaturas que ali rastejava.
                            Perto dele tudo parecia irreal e ganhava ares fantasmagóricos, como se tudo ali pudesse ser transpassado pela criatura. Olhou para Verbene e para si mesmo e percebeu que via através de seus corpos, eram fantasmas, verdadeiramente, na presença do solido, mesmo este estando distante deles.
                            Quando o solido avistou o seu alvo, Simic pode ouvi-lo em alto e bom tom, com a voz que parecia o soar de muitos trovões, mas imensamente calma e prazerosa, como ele não saberia explicar mas sabia que jamais ouvira aquele tom de voz.
                        - Desmond, agora já basta, venha comigo.
                        - Ora, afaste-se de mim (disse o rastejante, claramente incomodado com a criatura).
                        - Porque insiste em continuar rastejando nesta situação degradante, Desmond? Você esteve tão perto, porque não vem comigo?
                        - Fiz tudo certo na minha vida. Fui um bom pai, bom marido, bom patrão. E você? Não é porque se veste desta maneira toda iluminada que vou esquecer o que fez com minha família.
                        - Desmond, acabou. As coisas velhas já se foram e tudo se fez novo. Já estive na sua situação e, garanto que quando consegui me libertar e seguir adiante, tudo se transformou.
                        - Não!!! Vá embora. Você desgraçou minha família. Eu nunca fiz mal a ninguém, estamos em lugares trocados, exijo retratação.
                        - Desmond, aqui não adianta exigir nada e você mente quando diz que não fez mal a ninguém, sabe disso. Sua esposa sabe quem é você e até ela já o perdoou.
                        - Desgraçado, quem pensa que é pra falar de Ingrid? Você desgraçou minha casa, meu leito, minha família!!! Suma daqui.
                            - Você me deixa sem opções Desmond, não há mais nada que possa fazer a seu respeito. Podem vir – disse o sólido e no mesmo instante, surgidos do nada, uma legião de cavaleiros em imensos corcéis brancos entraram em cena. Atravessavam a vegetação como se ela não existisse e Simic teve certeza de que se estivesse no caminho seria transpassado pelos animais.
                            Eram cavalos belíssimos, parecidos da mesma matéria solida dos seres sólidos. Tinham crinas de fogo e olhos penetrantes como se enxergassem dentro e além do que avistassem. Seus cavaleiros vestiam um traje vermelho sangue e era como se o tecido literalmente fosse o liquido.
                            Falavam uma linguagem estranha entre si, tanto os cavaleiros como os animais.
                            Desceram rapidamente de suas celas e apenas a um movimento do solido, capturaram o infeliz rastejante e num átimo de velocidade estonteante, subiram em seus animais e desapareceram.
                            O solido ficou ali, de cabeça baixa, profundamente triste. Como se aquela missão fosse a razão de toda a sua existência e ele houvesse falhado. Por um bom tempo ficou naquela posição, então, ajoelhou-se e chorou copiosamente. Depois de muito tempo, levantou-se e notou a presença de Simic e Verbene. O olhar da criatura parecia uma lamina que atravessava os olhos de Simic, mas logo se voltou para Verbene.
                        - Cuidado Verbene, eu o aconselho a pensar muito bem nas escolhas que terá de fazer. – nisso a criatura desapareceu como se fosse um vento que nunca estivera verdadeiramente ali.




















“O vencedor será igualmente vestido de branco. Jamais apagarei o seu nome do livro da vida, mas o reconhecerei diante do meu Pai e dos seus anjos.” 
Apocalipse 3:5

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Capítulo 4 - Rays of Draw


Rays of Draw
Korina
Sonhos não morrem, apenas adormecem na alma da gente
Chico Xavier




                - [1]Algumas pessoas do planeta, ao deixarem a vida, veem suas almas migrarem para um lugar de transição. Esse lugar é inteligentemente arranjado por outras almas (que aqui já vamos tratar de chamar de espíritos). Estes são perversos. São gênios impiedosos que os ajuntam em comunidades escuras de ódio e desespero. (Continuou Salatiel)
                              - Esse lugar fica localizado próximo à crosta terrestre e é um local transitório para espíritos de baixo desenvolvimento espiritual, e é ali que ficam para resgatar suas dívidas, seus crimes e para que possam continuar sua evolução.
                              - É povoado por sofrimento e dor, sem contar o cheiro fétido que caracteriza o nível moral de seus habitantes.
               - Lá eles se organizam em verdadeiras cidades de espíritos que se escondem de si mesmos, envergonhados e amparados uns nos outros. Agrupam-se, conforme suas afinidades, em cidades, vilas e núcleos.
                              - O “chefe”, digamos assim, é o que vive no melhor prédio, e no local existem salões para festas, salões para julgamento, salões para audiências, enfim, nos moldes que conhecemos no planeta. Livros, revistas, jornais em sua grande maioria também editados na Terra, com a diferença que na Terra existem literaturas para o bom e para o mau. Lá só tem para o mau.
                        - Qual o nome deste lugar? (Perguntou Korina)
              - Tem vários nomes, por exemplo: Sheol, Mitologia Hebraica. Di Yu, o inferno da mitologia chinesa; Hades, o inferno da mitologia greco-romana; Helgardh, o inferno da mitologia nórdica; Mundo dos mortos, o inferno da mitologia egípcia; Mag Mell, o inferno da Mitologia irlandesa; Ne no Kuni e Yomi no Kuni, os infernos da mitologia japonesa. Todos se referem a ele como um lugar de sofrimento e dor, o inferno, pra resumir. Prefiro chama-lo de Baixo Astral, onde estas almas se concentram por sintonia. Outros chamam de vale dos suicidas, já que estas almas entraram num processo destrutivo de seu corpo físico, matéria que não se desgruda tão facilmente do corpo espiritual, sua densidade vibra além da culpa e profundo arrependimento o que gera um sofrimento quase interminável.
                        - Quando uma pessoa, jovem e sadia, morre violentamente, como aconteceu com você, as consequências são terríveis pelo motivo de que o corpo fica denso e com baixíssimas vibrações, consequentemente acaba caindo no Baixo Astral e não necessariamente estão ali por castigo ou expiação e sim pela densidade do corpo astral, como aconteceu com você e, nestes casos, acabam tendo interferência de colaboradores do plano espiritual superior que as ajudam a desvencilhar-se das energias densas e as trazem para cá.
                        - Como assim? Vamos ver se entendi. Então nós estamos em um lugar ao redor da Terra, num plano, digamos, extra físico?
                        - Exatamente.
                        - E eu vim parar num destes lugares depois que fui assassinada no planeta. Este lugar onde eu estava não era o lugar em que estaria se eu tivesse saído do planeta em condições naturais, por doença ou velhice ou coisa semelhante?
                        - Isso mesmo.
                        - E quanto as pessoas que são mortas em grandes conflitos? Guerras, genocídios...
                        - Bem, isso já segue uma outra linha que terei prazer em explicar, se for necessário, mais adiante. Digo, se for necessário, porque em breve e aos poucos, você retomará sua consciência e talvez nada do que estamos falando agora precise ser dito. Mas, para começar e para que não fique sem nenhuma resposta, os grandes conflitos, as grandes guerras ou catástrofes, naturais ou provocadas, acontecem, na maioria das vezes, por propósitos superiores.
                        - Propósitos superiores?
                        - Limpeza irmã. Às vezes para se fazer uma boa faxina, a casa precisa estar vazia.
                        - Não consigo ver isso como “propósito superior”, mas, como você mesmo disse, voltaremos a falar sobre isso.
                        - Ou, como eu disse, talvez não seja necessário.
                        - Mas me fale, quem era o ancião que me abordou quando despertava naquele lugar?
                        - Verbene Shirbazar. Cigano, de má índole, nascido na Mongólia na época imperial de Genghis  Khans e morto numa emboscada, em Ulan Bator, aos 65 anos, quando tentava assaltar, pela oitava vez, uma comunidade nômade que vivia nas cercanias da cidade.
                        - E como ele me conhecia? Quero dizer, de onde me conhecia que até meu nome sabia?
                        - Ele, na verdade, era ligado a Simic. Era o obsessor de Simic, um infeliz desencarnado que usava Simic pra sentir o gosto da bebida, do sexo, do fumo ou da comida. Um doente espiritual que por varias vezes tentamos resgatar, mas infrutiferamente, porque ele acredita pertencer a uma ordem sobrenatural liderada por Satanás. Um exercito poderoso que pretende dominar a todos quantos puderem recrutar para destruí-los no final. Então era por esse motivo que ele a conhece e a detesta.
                        - Me detesta?
                        - Sim. Por causa do amor que Simic sente por você, ele se afastou de qualquer espécie de prazer menor. Bebidas, sexo barato, fumo. Você, pelo seu amor, estava salvando Simic da interferência de Verbene, com isso, ele perdia seu canal de alimentação das coisas terrenas.
- E Simic??? Onde está? Eu o verei novamente?
                        - Simic e Verbene estão juntos.
                        - Sim, você já disse isso.
                        - Não Korina, eu não me expressei direito. Simic e Verbene estão juntos no mesmo plano. Em outras palavras: Eles estão juntos naquele lugar de onde a resgatamos.
                        - Mas, como assim? Ele tinha ido encontrar-se com os amigos para fugirem pelas montanhas da Albânia e...
                        - Ele também foi atingido por um soldado. Quando viu que tinham acertado em você, voltou gritando e o soldado o alvejou.
                        - Então quando é que vou vê-lo? Vocês vão resgata-lo também, não é? Ele não pertence aquele lugar, do mesmo modo que eu. Foi uma fatalidade... Um assassinato.
                        - Korina, tranquilize-se. Tudo em seu tempo. Procure agora descansar. Você o verá sim, são almas próximas. Deixe que a providência divina trabalhe a seu favor, como sempre fez. No momento certo, no relógio Dela, tudo se fará para o bem.
  

“Conheço as suas obras, o seu trabalho árduo e a sua perseverança. Sei que você não pode tolerar homens maus, que pôs à prova os que dizem ser apóstolos mas não são, e descobriu que eles eram impostores.
Você tem perseverado e suportado sofrimentos por causa do meu nome, e não tem desfalecido.
Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor.” 
Apocalipse 2:2-4



[1] Livre interpretação de textos das seguintes fontes: “O martírio dos suicidas” de Almerindo Martins Castro, “Nosso Lar” de Francisco Candido Xavier, “Nos bastidores da Obsessão” de Divaldo Pereira Franco e “Céu e inferno” de Allan Kardec.